quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Inédito de Herberto Helder a partir de hoje nas livrarias

A Faca Não Corta o Fogo — Súmula & Inédita
Herberto Helder




Colecção: Grãos de Pólen
208 pp.
edição encadernada
20 €

se do fundo da garganta aos dentes a areia do teu nome,
se riscasse com a abrasadura, se
em cima e em baixo mexido às escuras,
o forno com a mão a ver se ela podia
que uma púrpura em flor fosse até ao coração,
unhas e tudo,
que estremecesse, não por dito mas sabido
contra ti, e por artes
antigas trazer o ar, fazer uma
iluminação:
mudar o mundo para que o nome coubesse,
vivaz, tocado, fértil,
houvesse um dom inseparável, música, verbo:
se eu pudesse, se a terra
se atrasasse,
se pudesse em amarga língua portuguesa com o teu nome em qualquer
parte,
para eu mesmo riscar contra ti,
raiar contra ti,
sob
serapilheiras de sangue

Já disponível também no nosso site, aqui.

2 comentários:

Mapas De Espelho ( Imagem Suzzan Blac) disse...

É sempre bom saber que o HH vai escrevendo.

Helena Figueiredo disse...

HERBERTO HELDER: NOVO LIVRO DE INÉDITOS



Ó Helder, finalmente, um novo livro de inéditos, depois de 30 anos! Isto já é um caso para celebrar. Mas será que o mundo vai ser melhor? Será que as estrelas vão aplaudir? Será que Lisboa vai dar cambalhotas? Será que Afrodite vai ter um orgasmo?
Como o velho Pessoinha dizia: “ o mundo corre bem ou mal sem literatura original. “
Esta é uma pequena verdade, mas ainda assim, uma verdade.
Ó Herberto, desculpa, nunca te li, nem nunca te vou ler. Não me interessas.
Talvez porque saiba que és um dos poucos verdadeiros poetas, aí, em Portugal. E talvez porque já tenhas dito tudo o que se tinha a dizer em poesia, aí, em Portugal. E que para além de ti só há (talvez) meios-poetas, claro, aí, em Portugal.
Ó Herberto, como todos os bons poetas também tem os teus adoradores, sobretudo as mulheres. Mas será que gostas disso? Tudo me leva a crer que não.
Ó Helder, só falta erguerem-te uma estátua junto à Torre de Belém. Mas estou certo que dirás: não! És cá dos meus! Pois prémios e estátuas são coisas para poetas que não conseguiram ser políticos de nome e profissão. Que também os há, meu amigo, se assim te posso chamar. Tu não és desses. É assim mesmo, Herberto, é assim mesmo, Evoé! Evoé!
Helder Herberto, Herberto Helder, Poeta obscuro ou poeta claro, experimentalista ou surrealista, quem sabe disso são os críticos encartados, bem letrados, não é verdade? Aos críticos o que é dos críticos, ao leitor o que é do leitor!
Mas, ó Helder, para quem já leu Tranströmer, Sachturis, Trakl, Nietzsche, Heaney, Hölderlin, Georg, Hoffmanstal, Aleixandre, Huchel, Kavafis, Salinas, Alba, Paz, Beckett, Homero, Píndaro, Pasternak, Adonis, Neruda, Celan, Quental, Brodsky, Seifert, John Perse, Goethe, Schiller, E.T.A.Hoffmann, Jean Paul, Nerval, Rimbaud, A.R.R., Novalis, Luís Miguel Nava, Lorca, Cesariny, Luis Cernuda, Elytis, Rilke, Krolow, Däubler, Benn, Loerke, Brecht etc. etc. etc. e também o meu vizinho e a minha vizinha (que é uma loura de pernas altas e tem uns belos marmelos), entre tantos e tantos e tantos outros, desculpa que te diga, mas, ó Hélder! Para mim és mais um poeta. Nem mais nem menos. Para além disso também vais à retrete como tantos outros. Não é assim? Claro, claro, que é.
No entanto quero felicitar-te por este novo livro, que já foi ou vai ser editado pela Assírio&Alvim. Uma boa editora, essa editora, não é assim?


Ó Helder,

Com todo o respeito e um abraço para ti:

L. C.

PS

Herberto, disse que nunca tinha lido nada teu, mas é mentira, já li “ o bebedor nocturno “ (livro de traduções) de que gosto muito.
Ó Helder, gosto de ti, não pela tua poesia mas pela maneira de estares presente no mundo da literatura. Continua assim.