quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Fialho de Almeida na «Gato Maltês»

Fialho de Almeida (1857-1911) pertence àquela família de médicos que se tornam escritores porque vêem na literatura uma forma de medicina e na palavra um ácido corrosivo mas terapêutico. Fialho tomou a sociedade humana como um corpo cuja anatomia só podia ser conhecida depois de friamente dissecada a bisturi. O primeiro cadáver que ele cortou com os instrumentos cirúrgicos da literatura foi o da Ruiva (edição Assírio & Alvim, colecção «Beltenebros»), essa compleição de estátua num corpo de operária lisboeta, em 1878. Tinha vinte anos e o resultado é uma nova histologia social. Louis-Ferdinand Céline, médico como ele, escreverá depois o breviário da profissão destes novos higienistas: saturar o negro de negro, saciar o veneno de veneno, porque as epidemias só desaparecem quando os micróbios se enjoam das suas toxinas.

«Tenho vinte e cinco anos de idade, lindo talhe de letra, e dês’ que me meteram o ler e o escrever no corpo, ando mesmo hidrófobo por espatifar um desavergonhado. Contrate-me, senhor! Há em mim um sicário à altura da importância europeia deV.M. — E garantias! fui eu que atirei a bomba às janelas do rei do Porto, Correia de Barros, de combinação com ele mesmo. Sou portanto um regicida com prática na província, um regicida em segunda mão, bem conservado, e podendo mostrar abonações como o primeiro. Juro que não farei questão de preço. Somente, como apesar do meu ódio, eu não quero que V.M. morra, porque enfim pode vir outro pior, combinaremos a conspirata por forma que ela revista todas as aparências de séria, sem todavia deixar d’abexigar-se por dentro, com todas as inofensividades de jocosa.»


Brevemente na sua livraria.
ISBN: 978-972-37-1441-8 Preço sem IVA: 7,55 € / P.V.P.: 8 €.

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