sexta-feira, 4 de novembro de 2011

«Porquê insistir na grandeza e, mais ainda, na actualidade de Marx?»

978-972-37-1612-2
«Pode a Ideia de comunismo, nem que com outro nome, na sua imperatividade por assim dizer ética, na "messianicidade" (Derrida) da sua apelação como Ideia de uma justiça que expropriasse as expropriações organizadas como realidade "possível", de um Acontecimento que instaurasse, não uma pós-história, mas uma outra história, de uma Alternativa como comunidade fundada na comum auto-apropriação, não a anulação ou alienação colectivista do indivíduo mas ao invés a afirmação do individual, comunidade não hierárquica do ser-em-comum como função do ser-si-mesmo, relação igualitária com os outros, com o outro como outro, com a alteridade do outro — pode essa Ideia perder jamais a sua força imperativa, abdicar dos seus direitos como Ideia? Pode ela morrer, dissipar-se, extinguir-se jamais? Expirar, esgotar o prazo de validade histórica, prescrever? Ou, pelo contrário, ela é aquilo mesmo, aquela mesma, que não prescreve nunca, a Ideia por excelência imprescritível?»

«Porquê escrever afinal sobre Marx, porquê permanecer marxista, quando o marxismo, ensombrado por conotações históricas monstruosas, crepusculizou como filosofia e como ideologia? Porquê insistir na grandeza e, mais ainda, na actualidade de Marx? […] Marx não criou o comunismo, que o antecedeu de séculos, mas foi quem fez essa Ideia descer do céu das utopias à vida histórica dos homens e transformar-se no grande projecto revolucionário do mundo moderno, mostrando que o capitalismo tinha trazido consigo as condições materiais (económicas e sociais) para essa transformação.»

Sousa Dias nasceu no Porto em 1956. Professor. Publicou, entre outros livros, Lógica do acontecimento (sobre a filosofia de Deleuze), Questão de estilo (colectânea de textos de teoria da literatura e da arte) e O que é poesia?

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